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“Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura.”

(O Guardador de Rebanhos - Fernando Pessoa)

Consegui! Acabei de entrar.

…

Acho que o sinal aqui dentro está fraco.

...

Está tudo tão empoeirado.

Eu vivo por aqui, mas insistindo em permanecer no mesmo lugar, intrigado com a mesma coisa. Aí, acabo não reparando no entorno.

Como não recebo muitas visitas, limpo quando já não consigo circular tão bem.

…

Essa é a minha mente. Eu moro aqui.

Parece pequena, mas tem uma área de lazer fantástica. Outro dia eu mostro. Faço um tour.

Faz tempo que eu não registrava nada direto daqui, sabe. Muitos anos.

Acabei não mostrando o resultado das obras. Ainda não terminou! Calma! O que importa aqui é o estilo.

O que eu vou mostrar é algo muito especial. Ninguém viu ainda.

Está vendo esse espelho enorme aqui nessa parede? Lindo, né? Mas tem pouca utilidade. Só uso para ajustar as aparências.

De toda forma, faz parecer que eu reflito bem.

É aqui, diante dele, que eu passo a maior parte do tempo: refletindo.

Quando eu ganhei meu primeiro espelho (não lembro bem quem me deu), ele era bem pequeno. Mostrava só um pedacinho de mim.

Ao longo da vida, ganhei outros: do meu pai, da minha mãe, da família, de amigos, até de estranhos e fui juntando, até criar essa peça que você está vendo agora.

Você reparou nos remendos, não é?

...

Eu me arrependo.

Meu ímpeto por me ver inteiro, grande, fez com que eu acreditasse que as partes não interessavam. Que elas não ornavam. Colei-as.

Hoje, eu entendo que cada uma dessas peças mostrava algo peculiar de mim. Esses espelhos que uni mereciam ser visíveis. Nenhum deles refletia o mesmo eu.

Eu acreditei que precisava de um espelho grande para me ver inteiro. Para, enfim, me reconhecer, me conhecer e contemplar.

Não deu certo. Ficou brega.

É hora de refletir diferente.

...

Vou desmontá-lo e separá-lo em partes novamente. 

É um quebra-cabeças.

Vai quebrar a minha.

...

Estou em obras.

...

VOCÊ ESTÁ RECONECTANDO... AGUARDE.