domingo, 2 de novembro de 2008

FALSIDADE ODONTOLÓGICA


Os simpáticos que me perdoem, mas o sorriso amarelo é essencial.
Emerson Cardozo


Juro dizer meia-verdade, somente meia-verdade, nada a mais que meia-verdade sobre meus meio-sorrisos.
Diante deste espaço público a que me proponho falar, confesso que nem todos os meus sorrisos são por adesão. Minto sorrisos em situações de grande periculosidade e os disfarço em situações de médio e pequeno porte. Esboço sorrisos extremamente falsos em situações constrangedoras ou perante pessoas de baixo teor humorístico. Não sorrio. Apenas mostro alguns dentes.
Sinto-me injustiçado por essas acusações de falsidade odontológica, só por não expressar sempre a minha real emoção. Não gosto do meu sorriso, mas gosto de rir. Que atire a primeira pedra quem nunca cometeu o mesmo desvio indevido de lábios.
Não posso ser culpado por sorrir quando as coisas que vejo ou ouço ou sinto não são engraçadas. Humor negro também é humor. E também alego que se não agisse assim na maioria daquelas situações, poderia ser acusado de omissão de sorriso, o que me levaria a uma frieza perpétua.
Protesto! Acusados de injúria emotiva deveriam ser os que não sabem rir ou os que não sabem quando rir. Rio por necessidade, mas também rio como um trabalho social. Sinto que posso ajudar pessoas com qualquer mísero sorriso.
Se eu revidasse às situações escassas de humor com gargalhadas, sim, eu aceitaria minha condenação. Mas eu nunca o fiz. Nunca mesmo.
Algumas palavras ou expressões nos obrigam a sorrir em seguida a elas. Como dizer “peidei” sem um mínimo sorriso constrangedor? Como dizer “bem-feito” para pessoas odiáveis sem sorrir para um dos cantos da boca, ou até mesmo gargalhar (situação compreensível nesses casos)?
Digamos sim à democratização do sorriso!
Quando vivermos em um mundo onde todas as reações emotivas forem unânimes, será compreensível a condenação de um cidadão por emitir um falso sorriso. Enquanto isso não acontecer, lutaremos contra a discriminação dos sorrisos amarelos, dos sorrisos-sem-graça, sorrisos forçados e de todas as minorias sorrisais.
A falsidade odontológica é um direito de todos.


postscritum: segunda edição (limitada, como sempre) com revisão do autor.

Pour Emerson Cardozo

2 comentários:

  1. muito bom, pra variar... muito bom.
    sou a favor da falsidade odontológica!
    se candiidatou a vereador de saquarema???

    ResponderExcluir
  2. Tb sou a favor da falsidade odontológica, tanto q chego a ser uma ativista - mesmo meio cansada, mas altamente ativa nesse assunto.
    Risos verdadeiros, risos falsos, risos de dentes, de gengiva, risos reprimidos e, até mesmo, risos internos.
    De risos e sorrisos, a gente quebra a cara pra poder acabar rindo mais. É sempre assim, conotativa ou denotativamente, não há como escapar.
    O sorriso é a feição q mais acolhe, mas tb a q mais fere qnd quer - e q trabalhemos os dois, afinal, quem pode resistir a um lindo sorriso?
    rsrsrs

    ResponderExcluir